A PIPOCA QUE SOMOS
A culinária me fascina. De vez em quando eu até me atrevo a
cozinhar. Mas, o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as
panelas. Por isso, tenho mais escrito sobre
comidas que cozinhando. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que
a pipoca iria me fazer sonhar. Pois, foi precisamente isso que aconteceu.
A pipoca é um milho mirrado e subdesenvolvido. Fosse eu
agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas
espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Não sei como
isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as
espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos
amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água,
tentou a gordura. O que aconteceu ninguém jamais poderia ter imaginado.
Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da
panela com uma enorme barulheira. Mas, o extraordinário era o que acontecia com
eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias
que até as crianças podiam comer.
Mas, a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de
pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos
pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São
pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem.
Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está
representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do
milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os
piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Piruá é o milho
de pipoca que se recusa a estourar. Mas acho que o poder metafórico dos piruás
é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se
recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que
o jeito delas serem. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida
perdê-la-á”. A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não
estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se
transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o
estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem
para nada. Seu destino é lixo.
Que o fogo do Espírito Santo possa estar queimando nossas
cascas e fazendo-nos mais maleáveis ao seu sopro.
Deixa-te moldar pela Palavra viva e pelo poder de Deus!
Saia
da mesmice e faça diferença em sua geração.
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